A CIDADE: JOINVILLE/SC

crônica PREMIER
De fora pra dentro
Por: Mahatma Marostica

Mesmo que nas primeiras semanas o clima mostre-se muito normal, logo se ouve da chuva, do nublado, do mormaço, da garoa e de dias e dias assim... A fio. Trata-se de uma cidade frequentemente úmida, sem dúvidas, mas há muito de exagero no que seus moradores alarmam – especialmente os que imigraram.

Em apenas uma semana, bem rodada, surge a convicção que quase todos os caminhos foram desvendados. É tudo tão perto, tão rápido, fácil de localizar. Trafegar por entre as ruas é - com exceção de algumas áreas do centro - bastante intuitivo. “-Mas onde cabe tanta gente?” “- Moram lá, detrás daqueles morros”, há sempre quem responda apontando para o sul.

Meio milhão de habitantes parece mesmo ser algo só enxergado pelo censo. Joinville é, na verdade, um lugar de contra-sensos. Parece desdizer tudo o que as estatísticas e as brochuras levam a crer. Há menos bicicletas do que se espera, o povo é menos homogêneo do que se imagina em uma cidade de colonização alemã e, apesar de ser a cidade mais populosa e industrializada do estado, transparece um inegável aspecto de município do interior – e uma gostosa nostalgia nos surpreende ao vermos fruteiras e mercearias espalhadas por todos os lados. Menos famosa que as duas capitais que a cercam, Joinville é um pouco injustiçada no quesito fama, visto sua solidez e poder econômico. Em outros estados, muitos mal sabem em que região esta cidade fica. Talvez um motivo pra isso seja que Joinville é uma cidade que não nos convida pra entrar. Não por falta de educação, longe disso, é que quase sempre cruzamos a rodovia a caminho de uma das duas metrópoles ou praias.

Com sorte acabamos visitando a cidade a trabalho e eis uma tarefa que aqui não falta. É curioso observar as suas noites de quarta ou quinta-feira.As ruas se agitam com os bares apinhados de gente se divertindo e fazendo festa, mal se tem lugar pra entrar, até que de repente, reparei que entre onze e meia noite, há uma debandada geral. Em questão de quarenta minutos ou uma hora, os bares esvaziam de forma surpreendente, como se o apito da fábrica soasse por telepatia e chamasse a todos para o “toque de recolher”. Amanhã se acorda cedo.

Com um pouco mais de tempo, acostuma-se com os serviços de qualidade, com a competência e a assiduidade do povo, com a paisagem de morros amputados por terraplanagens, com o ritmo cadenciado dos trabalhadores e com o leve acento no sotaque.

E quando os primeiros raios de sol tocaram as costas dos morros perfilados no horizonte, uma súbita e fina garoa começou a cair.